No contexto bíblico, comunhão (do grego Koinonia) significa participação, parceria e união profunda, tanto com Deus (vertical) quanto com outros cristãos (horizontal). Envolve compartilhar a mesma fé, vida, propósitos e recursos. É uma relação de "mão dupla" de amor, serviço, expressa na Igreja e na vida diária. Não é, tão somente, estar junto, mas ter uma conexão pessoal transformadora. A vida em comunhão com Jesus é estar disponível a Ele. E, quem está em comunhão com Deus tem acesso disponível a Ele.
A ausência de comunhão com Deus, além de privilégios perdidos, também causa a redução:
1) da capacidade de juízo de valor;
Ainda que um juízo de valor possa mudar entre culturas e épocas, sabe-se que a ausência de comunhão (vertical/horizontal) afeta a capacidade de juízo de valor, pois a avaliação subjetiva sobre algo ser bom ou ruim; certo ou errado, quando não há comunhão, não há familiaridade ou conexão; e, consequentemente, o parâmetro para comparação de valores pessoais, culturais, morais, emocionais, fica prejudicado.
Ao reduzir a perspectiva individual, crenças e experiências de avaliação e julgamento, o juízo de valor começa a transitar entre a dubiedade e a indecisão, comprometendo a atribuição de valor (bom , mal, útil, inútil) e ao prescrever como algo deve ser a pessoa o faz de forma incerta.
2) da conexão vertical (Deus) e horizontal (outros cristãos);
A comunhão (do grego Koinonia) é um pilar fundamental da fé cristã, e quando o relacionamento com Deus e o relacionamento com outros cristãos está pendente, não é cultivado, deixa de ser nutrido, não há conexão. Os privilégios da comunhão vertical e horizontal são perdidos.
A pessoa sem essas conexões, tem prejudicado o seu juízo de valor para distinguir as coisas com clareza, sensatez, critério. Perde o discernimento, o senso de moral e bons costumes. Sua religiosidade, reservas espirituais e parcerias ficam instáveis, enfraquecidas. Logo perdem o objetivo, desfaz o vínculo e pouco a pouco deixam de existir.
3) a religiosidade;
A religiosidade é comprometida na ausência de comunhão, pois reduz a qualidade ou tendência do indivíduo para as coisas sagradas, moldando o seu modo de agir e seus valores, que passará a definir o que é correto para ele com base em sua fé. Diferente da religião, que é uma estrutura externa organizada, a religiosidade foca na experiência subjetiva e na maneira como a pessoa vive suas crenças.
4) as reservas espirituais.
Reservas espirituais referem-se ao acúmulo de recursos interiores (experiências de força, fé, confiança). Experiências na prática da oração, meditação, estudo bíblico e comunhão.
A ausência de comunhão, além de reduzir a oportunidade de novas experiências, reduz a lembrança de antigas experiências, tornando-se os exemplos e testemunhos escassos ou mesmo repetitivos.
E, tal qual os exemplos bíblicos como o azeite extra (reserva) para suas lâmpadas, das virgens prudentes ou o maná diário o povo de Israel precisava recolher o maná todos os dias, não se pode viver da reserva de experiências do passado.
Comunhão Restaurada - Como construir novas reservas?
No presente também é tempo de cultivar a conexão diária e contínua com Deus, com a finalidade de renovar o estoque (passado), restabelecer a comunhão e o fornecimento de suprimento espiritual.
Através da oração e da leitura da Bíblia. Da comunhão vertical e horizontal. Da dedicação ao Louvor e Adoração. Do autoconhecimento e foco na disciplina e na organização que constrói a pratica da devocional diária, para renovar as reservas espirituais, diariamente.
A oração é a comunicação direta com Deus. Conversar com Ele, expressar gratidão, buscar orientação, pedir perdão. Entender Sua vontade, através da leitura das Escrituras sagradas (Bíblia). Principal ferramenta para conhecimento dos propósitos de Deus e de como viver de acordo aos Seus ensinamentos.
A igreja oferece um espaço essencial a comunhão com outros cristãos. Participar dos cultos, de grupos pequenos (células), de atividades ministeriais permite compartilhar experiências, encorajar uns aos outros, orar juntos, crescer na fé como um todo.
Servir a Deus e aos outros em ações de assistência social (caridade), trabalho voluntário na igreja ou em ministérios específicos, fortalece os laços com a comunidade no cumprimento do propósito cristão.
A adoração, seja através da música, da oração ou de um estilo de vida que honra a Deus, é uma forma de reconhecer Sua soberania e expressar devoção. A adoração coletiva gera um senso de unidade e de propósito compartilhado.
Investir em amizades cristãs genuínas é vital para gerar apoio mútuo e busca por um relacionamento profundo com Cristo, como um sistema de suporte e encorajamento na caminhada de fé.
Essas práticas, quando vividas em conjunto, criam um estilo de vida que prioriza a comunhão vertical (com Deus) e a horizontal (com outros cristãos), resultando em uma vida espiritual mais rica e conectada.
A comunhão diária retroalimenta o relacionamento com Deus como o maná que Israel colhia todos os dias; e, portanto não pode ser com base no "maná de ontem".
Ainda que as reservas do passado, sejam formadas de um conjunto de práticas, crenças e de ferramentas para a meditação, louvor, oração, este "estoque" de fé, de esperança e de comunhão com Deus, deve ser renovado, todos os dias.